quinta-feira, 16 de maio de 2013

O Pastor da Umbanda

       Homenagem prestada ao Caboclo das Sete Encruzilhadas em cerimônia realizada na Tenda São Jerônimo, rua Visconde de Itaboraí, 8, Rio de Janeiro, em 30 de setembro de 1942.
     " Bem-aventurados os que têm fé, porque esses verão a Deus. São palavras de Jesus num dos seus maravilhosos sermões aos fiéis que o acompanhavam.
       A fé é uma das virtudes fundamentais de todas as religiões. Sublime por excelência, sem ela nada se poderá realizar no terreno espiritual e é por seu intermédio, dependendo da sua maior ou menor intensidade, que as almas se habilitam a levar avante a missão de que se incumbiram.
      A fé remove montanhas, cura as enfermidades do corpo e da alma, transforma os criminosos em cordeiros, faz o milagre do ladrão subir aos céus com Jesus Cristo.
      Foi a fé que levou uma grande alma a realizar em nossa terra uma formidável obra de reforma religiosa, com a implantação, em nosso meio, da Umbanda. E esta realização é tanto maior quando todos nós sabemos que, no Brasil de uns quarenta anos passados,era quase um crime pensar-se em fazer modificações de ordem espiritual.
      A realização da tarefa, por isso mesmo espinhosíssima, que sobre os seus ombros tomou o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS, de organizar a Umbanda no Brasil, é um verdadeiro milagre de fé que nos leva a um sentimento de grande amor e de profundo respeito por essa entidade, que se faz pequenina e que procura velar-se sob a capa de uma humildade perfeita.
       É a ele - ao Caboclo das Sete Encruzilhadas - , o Pastor de Umbanda, que se deve a purificação dos trabalhos nos terreiros; é a ele que espiritualmente está entregue a direção de todos as Tendas de Umbanda no Brasil.
       O CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS é o verdadeiro Guia de Umbanda, aquele com que todos  os outros Guias, lá no alto, combinam para realizar a maravilhosa obra da implantação da Umbanda, como religião tipicamente brasileira. Foi ele quem assumiu o compromisso de expurgar a religião do rito essencialmente africanista que se vinha praticando desde as primeiras levas de escravos trazidos pelos portugueses. Foi ele quem, provocando uma guerra mortal com os espíritos das travas, diretamente interessados com a implantação dos trabalhos de magia negra, não vacilou em seguir o programa traçado e arrebanhado as suas ovelhas - verdadeiro Pastor de Umbanda - vai continuando a sua obra de propagação com a constante criação de Tendas que, filiadas ou não à tenda de Nª. Sª. da Piedade, são realmente suas, pois estão debaixo de sua orientação espiritual.
       Que todos os adeptos de Umbanda não se esqueçam dessa verdade: o Caboclo das Sete Encruzilhadas é o legítimo Senhor de Umbanda no Brasil, pois percebeu a missão de organizá-la. O que afirmo não tem outro sentido a não ser que foi ele realmente o comissionado para esse fim; não veio inovar, veio apenas purificar o que já se fazia no país algumas centenas de anos.
       Ele não destruiu o ritual; antes deu-lhe força e método e o propagou com a sua organização maravilhosa. Verdadeiro Mestre da Magia Branca, responsável pela pureza do ritual, ele não poderia abandoná-lo, porque o considera sagrado; ao contrário, ele nos ensinou a amá-lo e a respeitá-lo , porque não há religião sem ritual. O que ele deseja, entretanto, é este ritual de Umbanda, humilde mas cheio de luz, seja nivelado ao das grandes religiões e isento de toda inferioridade, da prática de atos inúteis e perniciosos.  O que deseja é que este ritual seja praticado apenas por Guias autorizados, porque não são todos os espíritos que baixam nos Terreiros que se acham à altura de praticá-lo.
       Estas minhas declarações são tanto mais insuspeitas quanto todos sabem o amor que eu e todos os que fazem parte desta Casa de São Jerônimo temos ao Caboclo da Lua, que é por nós considerado uma entidade de grande poder e elevada espiritualidade. Todavia, por muito grande que seja, não hesitou em trabalhar sob a chefia do Caboclo das Sete Encruzilhadas e foi este que organizou e lhe entregou a Tenda São Jerônimo - a Casa de Xangô – que espero será sempre um dos esteios de sua obra.
       Há cinco anos, mais ou menos, previmos que Umbanda seria futura religião do Brasil. Então, a Umbanda era perseguida e considerada no nível de magia negra. Hoje, começamos a ver a alvorada da Umbanda, porque são as próprias autoridades que nos convocam para uma confissão pública de Umbanda como credo religioso, permitindo que, com essa designação, os Templos de Umbanda sejam assim registrados. É nossa vitória, ou antes , a grande vitória do Caboclo das Sete Encruzilhadas.
       O que todos nós devemos a essa grande Entidade é de valor inestimável; jamais poderemos esquecer os benefícios espalhados às mancheias por ele e pelos espíritos que acorreram ao seu chamado para ajudá-lo no cumprimento de sua missão.
       Esse espírito de eleição, cuja a fé é um incentivo para os nossos espíritos entibiados, cheios de irresoluções, fracos no cumprimento do dever, rebeldes, se não vemos as coisas marcharem ao saber dos nossos desejos – este espírito de luz, cuja a fé o levou a não ver os espinhos que o feriam ao longo da penosa jornada que teria de percorrer durante tão duros anos, bem merece ser enaltecido por todos os que se sentem felizes no ambiente humilde da Umbanda e nem de leve suspeitam de seu verdadeiro valor, da sua singular grandiosidade. E muitos ainda o confundem com o Exú das Sete Encruzilhadas, que é apenas um dos seus humildes trabalhadores.
       As injustiças, as ingratidões que lhe têm sido feitas, nessa luta de há quase 40 anos, jamais contribuíram para um desfalecimento de sua parte, em levar avante a sua missão. Assim como a tremenda campanha feita contra Jesus por aqueles que desejavam o aniquilamento de sua obra e o desaparecimento de sua doutrina, só contribuiu para que ela, com mais rapidez e segurança, se propagasse pelo mundo inteiro, assim também toda a campanha urdida contra a obra do Caboclo das Sete Encruzilhadas só tem contribuído – e cada vez mais contribuirá – para o seu engrandecimento.
       Foi a fé que o ajudou a realizar esta obra, que um dia será gigantesca e se espalhará também pelos confins do mundo; é pela fé que ele pretende nos levar aos pés do doce Nazareno, de quem é um humilde devoto.
       Verdadeiro Pastor de Umbanda, o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS, vela constantemente pela suas ovelhas e sereno, como só os grandes podem ser, ele sorri confiante na vitória de sua obra, porque sabe que a fé, que é seu alicerce, a sustentará pelos séculos a fora ".

Livro: Umbanda: religião do Brasil
Pedro Álvares Pessoa
Dirigente da Tenda de São Jerônimo, uma das sete tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas.

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