sábado, 11 de abril de 2015

A Deturpação

Batuque do Rio Grande do Sul
          "Em fins do século passado, o culto africano deturpara-se. A introdução de elementos de outras crenças gerou confusão. A magia dos velhos africanos transmitida através de gerações foi colocada a serviço de interesses pessoais e passou a constituir fonte de renda. Tudo se fazia para o bem ou para o mal, em troca de retribuição monetária. E, logicamente, trabalhava-se de preferência para o mal, porque - bem o sabemos e é triste reconhecê-lo - é mais fácil pagar para prejudicar o próximo do que em benefício de alguém. Mais facilmente o ser humano gasta para satisfazer uma vaidade ou concretizar uma vingança do que para salvar uma vida...
          Nessa base, multiplicavam-se os locais onde se pagava para prejudicar o inimigo, destruir lares, conquistar o que pertencia a outros. E, querendo aumentar o rendimento dos trabalhos, os feiticeiros criavam novos elementos para suas magias: objetos os mais curiosos, animais e aves inocentes, sacrificados para qualquer finalidade, obedecendo aos objetivos primordiais: enriquecer o mago e seus companheiros "derrubar" - termo ainda hoje muito usado em certos ambientes - os que não se curvavam ante os seus poderes negativos ou pretendiam fazer-lhes concorrência.
          Os mentores do plano astral, porém, há muito estavam atentos ao que se passava, sentando as bases de um movimento que pudesse combater a magia negativa que se propagava assustadoramente, envolvendo todos os grupos sociais: os mais humildes, amedrontados e os poderosos pagando para alcançarem sorrateiramente os seus objetivos inconfessáveis.
          Arregimentaram-se espíritos trabalhadores que se destinavam a restabelecer a doutrina da fraternidade e do amor ao próximo; deveriam apresentar-se sob formas capazes de serem aceitas e compreendidas pelo homem do povo, justamente o que se deixava levar com mais facilidade, pelas promessas ilusórias dos feiticeiros.
Batuque esculpido
          Formaram-se desse modo as falanges de Caboclos e Pretos-Velhos. De início aproximaram-se das sessões espíritas identificando-se sob essas formas, eram tidos como espíritos atrasados e suas mensagens não mereciam nem mesmo uma análise. Acercaram-se também dos Candomblés e dos cultos, então denominados baixo espiritismo, macumba. É provável que nestas, como nos Batuques do Rio Grande do Sul, tenham encontrado acolhida, mas para serem envolvidos nos trabalhos de magia negativa, como elementos novos no velho sistema de feitiçaria."

Lilia Ribeiro, 1976
Jornal: Na Gira de Umbanda, nº 6

Nenhum comentário:

Postar um comentário