domingo, 18 de outubro de 2015

2 - O Espiritismo de Umbanda

Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade (Sr. Zélio de Moraes juntamente
com médiuns da Tenda)
               Quanto mais se estuda a Linha Branca de Umbanda, mais se alarga os horizontes da espiritualidade e nos simplificamos na mais clara ignorância de que somos portadores. A Umbanda, esta trazida pelo humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas, força a humildade nos homens de boa fé e devasta o coração do vaidoso. "Aquele que tem ouvidos para ouvir, que ouça!"
               Segue, nos próximos parágrafos, o texto do Sr. Felipe Deininger, grande colaborar do Espiritismo de Umbanda no Brasil, Presidente da Tenda Espírita Nossa Senhora do Rosário, sobre as bases e objetivos desta genuína Religião brasileira.
               "Sua base moral está no exemplo do Cristo, seguindo os seus ensinamentos, exaltando sempre a Lei, que sintetiza o Evangelho: Amor, Humildade e Caridade. O Espiritismo de Linha, isto é, a Umbanda, proclama Ismael como o Anjo dirigente do Espiritismo no Brasil. 
               Nas Tendas, a simplicidade faz morada assim como a mais sublime exaltação do espírito. Faz uso de um altar, onde se encontram as imagens dos Santos, Santas, Virgens e Mártires da fé cristã, que são os Espíritos Superiores, que chefiam as missões das falanges de cada uma das Sete Linhas Brancas, no espaço, e que os chamamos de Orixás. 
               As manifestações mediúnicas à caridade se dão pelos Pretos e Caboclos. Os serviços de Umbanda compreendem a regra ordinária de atendimento ao público com curas e aconselhamentos. Os serviços de Demanda, compreende o desmanche da Magia Negra.
Sessão na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade

               É formada no espaço, por numerosas falanges de Pretos do Brasil e da Costa d'África, Caboclos (Índios) de todas as tribos brasileiras, orientais (Hindus, malaios, árabes etc.), que se agrupam em torno dos Padroeiros das Linhas, passando assim, a desempenharem missões que lhes são atribuídas. Não possui sacerdotes, por menos, possui Presidentes de Tendas, que são chamados de "Chefes de Terreiro", ou, "Pais de Terreiro". 
               Sendo estritamente cristã, sua missão é, portanto, espalhar a mensagem do Cristo. 
               Umbanda tem sua origem no grego e significa: "Deus [é] conosco", e sua definição é: "A manifestação do espírito, para a prática da caridade". Sua liturgia é extremamente simples em aparência, e extremamente complexa em ciência. Utiliza os livros de Allan Kardec, com ressalvas e correções, para explicar aos seus adeptos o processo dos fenômenos espirituais, da mecânica da mediunidade, da reencarnação, etc. Além de se fazer base didática na leitura do livro: "O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda" (1933), escrito pelo sr. Leal de Souza, jornalista, escritor, poeta e Presidente da "Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição".
             
Gongá (altar) da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade
 O Espiritismo de Linha, ou seja, a Umbanda, busca aprimorar as faculdades mediúnicas inerentes ao adepto, por meio de larga experiência prática e preparação sumamente teórica. Possui severidade conquanto à disciplina, porém é isenta dos dogmas condenadores. Possui uma linguagem própria para designar a sua operosidade. É marcante o uso dos uniformes brancos por parte de todos os membros da Tenda. Sessões, como são chamados os períodos de trabalhos. Em seu calendário litúrgico, celebra com rigorosidade, seriedade, e profunda alegria, os Padroeiros das Linhas. 
               A caridade é sua expressão máxima. Tem como um dos seus princípios o preparo para a vida futura. 
               Respeita todas as religiões dignas e verdadeiras, que seguem a Deus e a seus mandamentos sem nunca ferir o livre-arbítrio alheio, ou filiar-se às práticas funestas da Magia Negra.
               No Espiritismo de Linha (Umbanda), não se promove dízimos ou pagas pelos trabalhos feitos. Essa prática é contrária à lei de Umbanda e quem assim pratica, é abandonado pelos seus Guias e Protetores, ficando este médium a mercê de todo espírito inferior que puder deduzi-lo a miséria."
              De acordo com o sr. Leal de Souza, e com experiências pessoais que não me deixam duvidar, não há nenhuma organização espírita que se compare às Tendas de Maria do Chefe Caboclo das Sete Encruzilhadas. E basta que falemos delas para consagrá-las como grandes e legítimas instituições religiosas.

sábado, 3 de outubro de 2015

1 - Orientações aos Fiéis e Verdadeiros Adeptos

         
Ponto Riscado do Caboclo das Sete Encruzilhadas

               A religião solicita aos seus fiéis grandes responsabilidades, que devem ser seguidas não como obrigações, mas antes de tudo com amor e respeito. Jesus, na sua doçura e simplicidade, convidou homens ignorantes a sua companhia, pobres, ricos, velhos e novos, não pelo que fazia, mas pelo que era, uma figura exemplar de ser humano que diante de todas as dores do mundo não deixou de perdoar os seus inimigos. Seus milagres emocionavam os mais próximos e os que desejavam se aproximar, pois ali era externado sua grandiosidade espiritual conseguida perante muitas dores e penas, expiações e missões, porém e, acima de tudo, com fé e amor a Deus. Se o filho de Umbanda ainda procura modelo a seguir, lembremos que o Caboclo das Sete Encruzilhadas, fundador da abnegada Religião, nos disse que esta Umbanda teria como base o Evangelho de Cristo e recordando a pergunta 625 do Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, sobre o maior modelo que Deus ofereceu ao homem para servi-lhe de guia, os espíritos respondem Jesus, portanto Cristo deve ser modelo e guia para todo filho de Umbanda, sincero e fiel a Doutrina trazida pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas.
               Conta-nos Leal de Souza, em sua recomendada obra O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda, editora Conhecimento, 2º edição, 2008, que estava o Caboclo das Sete Encruzilhadas no ponto de interseção de sete caminhos, triste e choroso sem saber os rumos que tomaria seu destino quando apareceu-lhe Jesus, em sua doçura inefável mostrando-o numa das regiões da Terra, as tragédias e dores vivenciadas pelas paixões humanas. Por isso, indicou-lhe o caminho a seguir, como verdadeiro missionário do consolo e da redenção. E, de maneira que pudesse jamais esquecer este momento sublime da sua eternidade, rebaixando-se aos humildes trabalhadores, este pequenino mensageiro do Cristo tirou seu nome do número dos caminhos que o desorientava, ficando, como hoje nós conhecemos, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, carinhosamente chamado, daqui em diante, como Chefe.
               Jesus, em toda sua Sabedoria e Amor, jamais se equivocaria em designar tal missão a qualquer um dos Seus Anjos, escolhendo para isso um espírito humilde e que se fez pequenino para assim amar, tal como Deus nos ama, todos os encarnados que se aproximassem dele, quer direta ou indiretamente. Afim de que toda a sua missão fosse materializada na Terra, foi escolhido para o trabalho um jovem rapaz chamado Zélio Fernandino de Moraes, com 17 anos na época. A história todos nós já conhecemos, entretanto, o que pretendemos neste momento é clarificar a importância deste momento religioso e a autoridade sobre todo o espiritismo de Umbanda que cabe ao humilde Chefe. Portanto, todo filho de Umbanda, verdadeiro Templário da Ordem Branca, reconhece o Caboclo das Sete Encruzilhadas como criador, fundador e instituidor da Religião de Umbanda, em todo o mundo. Se ainda procuramos saber e fazer Umbanda jamais vos esqueça de que modelo maior que Jesus não há e que a Doutrina do Chefe Caboclo das Sete Encruzilhadas é farol que nos guiará aos rumos certos diante de toda a escuridão que ainda insiste em nos atrapalhar a caminhada rumo a Deus.
               Uma Doutrina é firmada no mundo sob as ordens de Jesus, e como ordem podemos entender que fora sob suas palavras erigidas e O mesmo já nos aliviava: "O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar.” A Umbanda instituída pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas veio para ficar, como rocha firme e intacta, como é a palavra do Nosso Guia Maior, o Cristo.
              

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Introdução aos estudos

               Aos abnegados irmãos, que nossa luta siga confiante e com Cristo. Sob o manto de Nossa Senhora, que Nosso sempre Humilde Chefe Caboclo das Sete Encruzilhadas nos traga a inspiração perfeita , sensibilizando nossos coração para a prática da Caridade, imbuídos de Amor e Humildade.
       
               A Umbanda é religião dos simples, porque assim como nascestes em casa modesta, assim deve ser em todos os cantos. Ainda que não haja tijolos levantados ou um teto que possa nos proteger da chuva ou do sol, a Umbanda acontece embaixo das árvores ou sob o manto negro azulado da noite. Deus, em sua infinita Misericórdia enviou o Humilde Chefe Caboclo das Sete Encruzilhadas para nos dar o caminho, a verdade sobre um movimento que precisou ser criado no solo brasileiro. Era uma semente pequenina, como um grão de mostarda e que cresceu e se fortaleceu sob a bandeira mais pura da humildade, do amor e da caridade. Mas, não nos enganemos, pois o mesmo movimento já ocorria no espaço, organizado por espíritos de pretos e caboclos que viveram em encarnações passadas em todos os cantos do Brasil e além, carregando consigo a tarefa de ajudar o grandioso país, elevando, a patamares nunca antes visto, o Evangelho de Jesus Cristo.
               O responsável por abençoado movimento, o Chefe Caboclo das Sete Encruzilhadas, como nenhum outro espírito que baixara na Terra, trouxe para os rincões de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, o Evangelho do Cristo e assim nascestes a Umbanda. A nova religião seria simples, como só espíritos de luz sabem fazer. Os fiéis estariam de branco e pés descalços. Os espíritos iriam se manifestar para a prática da Caridade, com Jesus.
                Desta postagem em diante iremos nos aprofundar nas verdades sobre a Umbanda, trazendo, de forma simples, detalhes, conceitos, práticas para servir aos de coração puro como um farol na escuridão. Seja como for, a Linha Branca de Umbanda carrega em si as verdades, conduzida por Aquele que trouxe a Umbanda ao solo brasileiro. Para aprendermos com Aquele que sabe mais, é requisitado a nós toda a humildade, toda a fé e amor, pois ainda que nosso entendimento seja imperfeito para compreendermos tais coisas, que possamos avançar confiantes e imbuídos de boa vontade e respeito
               Deus seja conosco!

sábado, 9 de maio de 2015

A Umbanda Não Faz o Santo Nem Feitura de Cabeça


        O fundador da Umbanda, o Caboclo das Sete Encruzilhadas (que foi padre em vidas anteriores) ao se incorporar no médium fluminense Zélio de Morais, ditou as normas de como deviam funcionar os terreiros de Umbanda, praticando a caridade gratuita; sem tocar tambores (atabaques), nem palmas no acompanhamento dos médiuns de incorporação, doutrinando-os e afastando-os, aliviando os doentes, curando-os da falsa loucura.
          Zélio de Moraes, que faleceu aos 83 anos, em 1975, ao ser entrevistado por Ronaldo Antônio Linares, presidente da Federação Umbandista do Grande ABC, na rua Visconde Inhauma, 1174, Vila Gerty, em São Caetano do Sul, diz: "Não havia Umbanda antes de 1908. Havia a chamada macumba, que era feita pelo Candomblé, por causa das oferendas aos santos. A Umbanda não é macumba, não é Candomblé. Na Umbanda não se usa isso. Nós não batemos tambor (atabaque). Quem bate é a macumba. Nossa Umbanda não tem tambor e nem palmas, nem roupa de seda. Aqui, em meu terreiro, se usa roupa simples de algodão e sapato de córda ou descalço. Não tem seda, nem luxo. Tenho ouvido que muitos umbandistas aqui da Guanabara estão "fazendo o santo". Médium fazer santo? Eu não creio nisso. Nós trazemos isso de berço. Ninguém bota santo na cabeça dos outros. Em nossas sessões, temos a preocupação de curar loucos (desobsessões). Já foram curados muitos, que estavam em sanatórios e que era de outras religiões. Eu trabalho com o Orixá Malé, de Ogum, que foi trazido pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas para curar os loucos ou obsidiados".

Lux Jornal - Notícias Populares (São Paulo), 15 de Junho de 1977

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Carta aos Irmãos de Fé

Gongá da Tenda Espírita Nossa Senhora do Rosário (São Paulo)
Rogando a Mudança do Hábito de Generalizarem, nos Assuntos Espíritas de Umbanda:

          Recordando, no dia de hoje, onde o mundo salva o combatente benfeitor, emissário da fé em Cristo, que vence as torrentes pérfidas do mal, venho eu, simplório servidor do magnânimo Espiritismo de Umbanda, um humilde Chefe de Tenda, enviar um abraço fraterno aos meus irmãos, combalidos e triunfantes nas labutas do mundo. No entanto, devo encarecidamente, pedir um favor aos meus irmãos. Favor ousado, devo dizer. Peço, em nome do Cristo, que possais entender minha contenda.
          Sem mais delongas, solicito aos irmãos, que ao ensinarem sobre as vossas doutrinas, que o façam em nome delas, sem generalizar o Espiritismo de Umbanda.
Pois devo dizer aos meus irmãos, que em minha doutrina, não cultuamos deuses africanos, ancestrais divinizados, encantados nos elementos da natureza, energias das forças naturais, ou cousas parecidas.
          Respeito, profundamente quem o faça em seus Terreiros de Umbanda. Porém, devo acrescentar, que aqueles a quem chamo de Orixás, são os Padroeiros, os Santos propriamente, excluindo o tal "sincretismo" que tantos perseguem. Para nós, servidores humildes da Linha, nunca houve sincretismo, pois como exposto, prestamos reverência aos Santos, que são os que chamamos de Orixás. Poucos baixaram e baixam entre nós, nas Tendas, para trazer a benfeitoria do espaço.
           O primeiro, cito, fora aquele a quem chamamos de grande Capitão de Demanda, o Orixá Mallet, que fora trazido pelo Chefe em 1913. E que quando encarnado fora um príncipe malaio. Junto, Ele trouxe, o Orixá Ganga Mu, os quais trabalharam ativamente em seus aparelhos, verdadeiros dignatários do Altíssimo. O Orixá Mallet, respectivamente com o Sr. Zélio de Moraes, e o Orixá Ganga Mu, com o Sr. Ruiz.
          Eu falo, e tão somente, em nome da minha simploriedade, e da minha Tenda, a Tenda Espírita Nossa Senhora do Rosário. Como já muito expus, para nós, as Sete Linhas Brancas, possuem um Patrono, e mais vinte Orixás, em cada uma, para chefiar as suas missões, isto é, das suas falanges no espaço e nas Tendas.
          Assim sendo, litarei em ordem hierárquica, os Patronos das Sete Linhas Brancas: Jesus, São Jorge, São Sebastião, São Jerônimo, Santa Bárbara e a Virgem Maria. A sétima Linha, não possui um Patrono, pois ela se acosta às outras seis para trabalhar. Em outra linguagem, chamamos de: Oxalá, de Ogum, Xangô, Nhan-San, Amanjar e Almas (também chamada de Linha de Santo, esta se acosta às outras seis para exercer suas funções). Em cada uma destas Linhas, há seus Padroeiros, os Santos, a quem chamamos de Orixás.
A título de curiosidade, cito alguns Orixás das Linhas, que prestamos reverência. Na Linha de Oxalá: São Cosme e São Damião, São Miguel Arcanjo, São Benedito, Santa Clara, Santa Luzia, etc.
          Na Linha de Ogum: Santo Expedito, Santo Antônio, São Longuinho, São Florêncio, etc. E assim sucessivamente. Enfim.
          Agradeço, aos que leram até o final, e sendo assim, suplico para que não generalizem, e que expliquem as coisas, remetendo os assuntos, e destacando-os como pertencentes à sua Doutrina. Não generalizem irmãos. E como término, peço à Deus que vos infunda a paz nos corações, as saúdes em vossas matérias, e que todos sejam contemplados pelo meu sincero abraço fraterno.

Felipe Deininger Hlibka - Presidente da Tenda Espírita Nossa Senhora do Rosário, 2015

terça-feira, 14 de abril de 2015

Desvirtuamento


        "No crescimento religioso que, a partir de 1930, tomou ainda menor vulto, nem todos os dirigentes souberam manter-se na função de missionários da espiritualidade. A vaidade, a intolerância, as tentações que a "vil moeda", como dizia o Caboclo, exerce sobre o homem, são as principais responsáveis pelo grande número de templos que usam o nome de Umbanda - pela vibratória interna do vocábulo - sem contudo, seguirem as normas estabelecidas pela entidade, desrespeitando a verdadeira Codificação elaborada em longos meses de estudo e trabalho prático. Nem todos souberam manter o "slogan": A Umbanda é a manifestação do espírito para a caridade." Em consequência, o modesto uniforme branco deu lugar a vestimentas vistosas, com rendas e lamês de alto custo sugerindo luxo e estabelecendo indevidamente diferença econômica entre os membros de uma comunidade religiosa.
          A presença dos Caboclos deixou de objetivar exclusivamente a prática da Caridade, para constituir uma reunião festiva, e o conceito "dai de graça o que de graça recebes" ficou no esquecimento substituído que foi pelos cartazes que estipulam preços para "consulta" de Pretos-Velhos, Exus e das "ciganas".
          A magia que o Caboclo das Sete Encruzilhadas e seus auxiliares espirituais incorporados em médiuns cônscios de sua responsabilidade, praticavam para curar, retirar obsessores, encaminhar os desviados da trilha do amor fraterno e da Caridade, deu lugar à magia terra-a-terra regada a sangue e movida por dinheiro. 
          Umbanda cresceu e difundiu-se. Milhares de templos cumprem a sua missão de caridade espiritual. Outros - em em número considerável, infelizmente - desvirtuam-na.
          A Aliança Umbandista do Estado do Rio de Janeiro - a ALUERJ, porém, confiante no futuro de progresso e paz que aguarda as gerações vindouras, espera reerguer, em toda a sua pujança os conceitos que, há pouco mais de meio século, implantaram em nosso País e Religião de Umbanda."

Lilia Ribeiro, 1976
Jornal: Na Gira de Umbanda, nº 6

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Surge a Umbanda

 
        "No dia seguinte, 16 de novembro de 1908, na residência do jovem médium, na Rua Floriano, 30, em Neves, realizou-se a primeira sessão desse culto, ao qual a entidade deu o nome de Umbanda. Estavam presentes quase todos os membros da Federação Espírita, para verificar a veracidade do que fora declarado na véspera. Os amigos da família, surpreendidos e incrédulos, e também grande número de desconhecidos, enfermos e aleijados, que ninguém saberia dizer como haviam tomado conhecimento do que se passava. E muitos deles ao final da reunião, estavam curados.
          Vamos fazer um breve parêntese para focalizar um assunto que tem dado margem a controvérsias: o emprego do vocábulo Umbanda. Diz Matta e Silva, no livro "Umbanda do Brasil": 


"Esta complexa mistura, que o leigo chama de macumba, baixo espiritismo, magia negra, envolvendo práticas fetichistas e barulhentas em pleno século XX, era a situação existente quando surgiu um vigoroso movimento de luz, ordenado pelo astral superior, feito pelos espíritos que se apresentavam como Caboclos, Pretos-Velhos e Crianças. Em meio às práticas confusas, desordenadas, fez-se imprescindível , um movimento dentro desses cultos, ou de sua massa de adeptos, lançado através da mediunidade, pelos Caboclo e Pretos-Velhos com o nome de Umbanda. O termo Umbanda que eles implantaram no meio ambiente, para servir de bandeira a essa corrente poderosa, um termo litúrgico sagrado, vibrado, que significa, num sentido mais profundo, o conjunto de leis de Deus. O termo Umbanda foi implantado, há pouco mais de 50 anos pelos espíritos que se apresentam como Caboclos e Pretos-Velhos."

          Emanuel Zespo escrevia em 1953 ("Codificação da Lei de Umbanda", 2º volume): "O movimento umbandista do Brasil está apenas em sua quarta década." No "Pequeno Dicionário de Umbanda", publicado em 1956, com o seu nome verdadeiro, Paulo Menezes, diz: - ... durante quase onze anos estudamos de lápis e papel em punho as mirongas do rito umbandista; assisti ao nascimento do Jornal de Umbanda, escutamos a história da Umbanda, na voz de José Álvares Pessoa; privamos com o mais antigo médium de Umbanda: Zélio de Moraes."
          Lembremos, também, o livro de João do Rio, publicado em 1904, onde descreve todos os cultos e seitas e cujas práticas assistiu, não citando, nem uma vez, o termo Umbanda. Mas, voltaremos a 16 de novembro de 1908.
          A entidade manifestou-se e determinou as normas do culto, cuja prática seria denominada "sessão" e se realizaria à noite, das 20 às 22 horas, para a cura de enfermos, passes e recuperação de obsedados. O uniforme a ser usado pelos praticantes seria inteiramente branco. O atendimento público é totalmente gratuito. Os cânticos não seriam acompanhados de atabaques, nem de palmas ritmadas. 
          Fundava-se assim o primeiro templo para o culto de Umbanda, com denominação de "Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade", porque - nas palavras da entidade - assim como Maria acolhe em seus braços o Filho, assim a Tenda acolheria os que nas horas de aflição a ela recorressem. 
          Através de Zélio de Moraes, além do Caboclo das Sete Encruzilhadas manifestou-se um Preto-Velho, Pai Antônio para a cura de enfermos. Cinco anos mais tarde, apresentou-se outra entidade, o Orixá Malé, para tratar de obsedados e combater trabalhos de magia negra.
          A figura de Cristo centralizava o culto. Sua doutrina de perdão, de amor, de caridade, era a diretriz dessa religião, que falava de perto ao coração dos humildes, anulando preconceitos, nivelando o doutor e o operário, o general e o soldado, a senhora e a sua serviçal. Daí em diante, a casa de Zélio de Moraes passou a ser a meta de crentes, descrentes, enfermos e curiosos.
          Os enfermos eram curados. Os descrentes assistiam a provas irrefutáveis. Os curiosos constatavam a presença de uma força superior. E os crentes aumentavam dia a dia.
          A retribuição monetária pelos trabalhos de cura, de enfermos e obsedados não era admitida, nem mesmo sob forma de presentes. Médiuns que, por receberem entidades que se apresentavam como Caboclo e Pretos eram recusados em centros espíritas, aderiram ao novo culto. Houve manifestações espontâneas de mediunidade. E deu-se a recuperação imediata de enfermos, cuja doença, considerada mental, nada mais era do que manifestação mediúnica.
          Mais tarde, iniciaram-se as aulas doutrinárias para o preparo de médiuns que iriam dirigir os sete templos que o Caboclo das Sete Encruzilhadas deveria fundar, como segunda etapa da sua missão: Tenda Nossa Sra. da Conceição, com Leal de Souza; Tenda Nossa Sra. da Guia, com Durval de Souza; Tenda Santa Bárbara, com João Aguiar; Tenda São Pedro, com José Meireles; Tenda de Oxalá, com Paulo Lavois; Tenda São Jorge, com João Severino Ramos; Tenda São Jerônimo, com José Álvares Pessoa e Anírio M. Batista, médium do Caboclo da Lua.
Centenas de Templos foram depois fundados sob a orientação do Caboclo das Sete Encruzilhadas, no Estado do Rio, em São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Pará, Rio Grande do Sul. Sempre que possível, Zélio participa pessoalmente da instalação; quando o seu trabalho material não o permitia, enviava médiuns capacitados para organizarem e dirigirem as novas Casas.
          O Caboclo das Sete Encruzilhadas nunca determinou sacrifício de aves ou animais para fortalecer o poder do médium, nem para homenagear entidades. O preparo mediúnico baseava-se na doutrina, no ensinamento de normas evangélicas. A água e as ervas eram os elementos ritualísticos usados através de amacis, banhos e defumadores.
          O Evangelho era a base do ensinamento da entidade que recomendava, como lembrete constante do que é necessário para a prática correta e leal da mediunidade: não ter vaidade; manter elevado padrão moral; proceder corretamente dentro e fora do templo; prestar socorro espiritual gratuitamente a todos os que dele necessitando recorram ao médium, não aceitar retribuição monetária pelos trabalhos. A única retribuição deve ser a certeza do dever cumprido.
          A Umbanda nos ensina a crer num Deus único e absoluto, nos Orixás, forças superiores que atuam nos vários campos de revelação e chegam até nós através dos seus mensageiros, os Guias, trabalhadores dos terreiros de Umbanda; na Reencarnação - a volta do espírito, sucessivamente, à matéria para se aproximar de Deus; na Lei de Causa e Efeito - que nos dá a colheita correspondente ao que semeamos; no amor ao próximo, base da Fraternidade Universal.
          A Umbanda indica-nos o caminho a seguir: a prática da mediunidade como missão e nunca profissão; a humildade,  a tolerância, a compreensão, o pensamento positivo para nós mesmos e para os nossos semelhantes; a Caridade - Amor espiritual - na palavra e na ação.
          Em 1939, o Caboclo determinou que se fundasse uma Federação para congregar os templos umbandistas e que deveria ser o núcleo central do culto. Essa Federação passou a denominar-se, mais tarde, União Espiritista de Umbanda
do Brasil. Dez anos depois, surgiu o Jornal de Umbanda, que durante mais de dois decênios, foi um porta voz doutrinário de grande valor."

Lilia Ribeiro, 1976
Jornal: Na Gira de Umbanda, nº 6

Uma Nova Era

Quadro do Chefe Caboclo das Sete Encruzilhadas
(pintado mediunicamente)
          "Em 15 de novembro de 1908 compareceu a uma sessão da Federação Espírita em Niterói, um jovem de 17 anos pertencente a tradicional família fluminense. Chamava-se Zélio de Moraes e restabelecera-se, dias antes, de moléstia cuja origem os médicos haviam tentado, em vão, identificar. Sua recuperação inesperada causara surpresa. Nem os doutores, nem os tios, sacerdotes católicos, haviam encontrado explicação plausível. A família atendeu , então, à sugestão de um amigo que se ofereceu para acompanhar o jovem Zélio à Federação.
          O dirigente dos trabalhos, José de Souza, convidou-o a participar da Mesa. No decorrer da reunião, Zélio sentiu-se tomado por uma força estranha e ouviu sua própria voz perguntar por que não eram aceitas as mensagens dos índios e caboclos e se eram eles considerados atrasados apenas pela cor e pela classe social que declinavam.
          Seguiu-se um diálogo acalorado, no qual os dirigentes da Mesa procuravam doutrinar o espírito desconhecido que mantinha argumentação segura. Finalmente, um dos videntes pediu que a entidade se identificasse, já que lhe aparecia envolvida numa aura de luz.
          - Se querem um nome - respondeu involuntariamente Zélio - que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas porque não haverá caminhos fechados para mim. E prosseguindo, anunciou a missão que trazia: estabelecer um culto no qual os espíritos de índios e negros escravos pudessem cumprir as determinações do astral." 

Lilia Ribeiro, 1976
Jornal: Na Gira de Umbanda, nº 6